Ficha de Leitura III
Referência Bibliográfica: GUERRA, Isabel Carvalho (2002). A construção de Projectos de Intervenção. In GUERRA, Isabel Carvalho. Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais.2ªed, pp 163-174. Cascais: Principia.
Palavras-chave:
- Objectivos;
- Finalidades;
- Planeamento;
- Estratégias;
- Plano de Acção.
Reflexão Crítica:
Consideradas as necessidades alvo de intervenção e realizado o diagnóstico, segue-se a próxima fase na elaboração de um projecto, que consiste na definição dos objectivos. É nesta etapa que são estabelecidas as finalidades do projecto e verificado se os objectivos são concretizáveis. Do meu ponto de vista este período revela-se crucial, pois será no mesmo que é analisada a operacionalização dos objectivos estabelecidos, e se este exame falhar, todo o sucesso na concretização do projecto é posto em causa.
A autora destaca as diferenças existentes entre finalidades, objectivos gerais e objectivos específicos; considerando esta distinção complexa devido às diversas atribuições feitas por vários autores. Começo por definir finalidades, que se denominam por o motivo que sustenta o projecto, assim como a contribuição que este poderá ter na alteração das realidades problemáticas que se decidiu modificar. As finalidades são estabelecidas antes do diagnóstico e estão inseridas nos grandes domínios das políticas gerais da instituição. Concordo com a autora quando esta afirma que será sempre mais benéfico restringir a escolha das finalidades, a apenas uma ou duas, isto para garantir a sua concretização. Os objectivos gerais, tal como a denominação aponta referem-se às grandes directrizes do trabalho a desenvolver, estas são coesas com as finalidades do projecto. Por sua vez, os objectivos específicos, traduzem-se nos resultados esperados, esmiuçando os objectivos gerais; criados de forma operacional, quantitativa ou qualitativa, de modo a poder examinar a sua concretização. Diferenciam-se dos objectivos gerais pois estes não delineiam as direcções, mas sim os estádios a alcançar, tendo um carácter mais descritivo. A construção dos objectivos específicos deve ter em conta os seguintes aspectos: inexistência de ambiguidades e ser clara; ser precisa; os objectivos devem estar quantificados, e por fim estes objectivos podem ter um caracter qualitativo ou quantitativo.
Delineados os objectivos passamos às formas de acção, nesta fase iremos prever quais são as formas de atingir os objectivos mais rentáveis, entrado então o conceito de estratégia. Que se define, apesar da sua amplitude terminológica, pelas grandes orientações metodológicas de intervenção do projecto, tendo em vista a relação entre objectivos e recursos. Na minha opinião esta etapa revela-se crucial, pois é aqui que será criada uma linha de acção, que conduzirá todo o processo de implementação do projecto, e é em torno desta que serão tomadas as decisões alicerçais. Portanto importa salientar as fases que a construção das estratégias deve obedecer, enunciadas por Imperatori e Giraldes (1996): fixação dos critérios de concepção das estratégias; contagem das modificações necessárias; delineamento das potenciais estratégias; selecção das mais realizáveis; descrição pormenorizada das estratégias eleitas; cálculo dos custos das estratégias; avaliação da adequação dos recursos futuros e por fim revisão das estratégias e dos objectivos.
O estabelecimento dos critérios de concepção das estratégias é um processo largamente ligado com a política da instituição, assim como com o tipo de objectivos e recursos disponíveis. Visto que nesta etapa se terá que fazer opções no tipo de acção, passo a exemplificar algumas: ter de decidir entre uma acção extensiva, onde se atinge mais grupos sociais; ou uma acção intensiva, que atinge menos grupos sociais mas com mais intensidade e recursos; as escolhas referem-se também a optar por uma estratégia de acção mais clássica ou mais inovadora mas cujos resultados estão ainda por apreciar. Esta escolha poderá traduzir-se, na minha opinião, numa dificuldade pois cada decisão acarreta uma ou mais consequências, visto que por vezes existirá a vontade de inovar, e seguir uma estratégia diferente e revolucionária frente a tudo o que já se conhece, mas existe sempre o perigo de os resultados não irem ao encontro do esperado. Portanto será de prever que na maioria dos casos quem elabora o projecto siga o caminho mais fácil, isto para não por em causa o seu sucesso.
Para concretizar os objectivos estabelecidos é criado um plano de actividades, que define de forma minuciosa o que se deseja fazer, tendo em vista os já mencionados objectivos, meios e estratégias. Deve envolver-se perante as seguintes questões: Porquê? Questionando a razão do projecto ser realizado; o que deve ser feito? Onde se engloba as tarefas, o pessoal, a distribuição das responsabilidades, os recursos dispensáveis; Onde? Interrogando o local onde deverá ser feito o projecto; Quando? Inquirindo quando deve ser feito e por fim Como? Averiguando os métodos e meios a utilizar.
Um plano de acção pode adquirir várias dimensões, plano de actividades, plano de avaliação, plano de aprofundamento; estas variam consoante a extensão e profundidade do projecto. Contudo são nomeadas algumas componentes que um plano de acção deverá incluir: identificação do programa; estabelecimento da actividade; definição das tarefas; nomeação dos responsáveis pela concretização dessas acções e tarefas; recursos necessários e o calendário.
Analisar este texto de uma perspectiva crítica possibilitou-me conhecer um pouco mais esta temática tão complexa: a metodologia de projectos de intervenção. Aprofundei alguns conceitos já reconhecidos e clarifiquei a concretização de mais algumas etapas na construção de um projecto, informação que se tornará muito vantajosa.
Gostava de terminar enunciando uma ideia que a autora proferiu, e que pela sua veracidade e amplitude gostava de explorar. Referindo-se às soluções que são por vezes necessárias de encontrar para fazer frente a problemas levantados aquando a construção do projecto, a autora afirma não existirem soluções-tipo, isto é, “cada caso é um caso” (2002, 172). E aqui eu penso que se levanta uma questão importante, visto que para toda a elaboração de um projecto parece existir uma receita, um protocolo a ser seguido, mas quando surgem os problemas nada disso os resolve, apenas um profundo estudo sobre o caso e os recursos parece fazer parte da solução, mas ainda assim se isto não for necessário há que inovar. E é neste campo onde se espera que o profissional modernize, actualize, arrisque; é aqui que se definem os bons profissionais, aqueles que têm a capacidade de ultrapassar as dificuldades e levar o seu projecto a bom porto.